sábado, 24 de agosto de 2013

[Dó-Ré-Mi] 2003: The Soul Sessions

A coluna Dó-Ré-Mi de hoje traz o CD de estreia de um dos fenômenos mundiais da Soul Music, a cantora e compositora inglesa de Soul e R&B, Joscelyn Stoker. Eu sei, provavelmente você nunca ouviu falar nesta cantora, mas foi com esse nome que veio ao mundo Joss Stone, como hoje é conhecida.

Joss Stone

Joss apareceu para o mundo em 2003 com apenas 16 anos, alguns clássicos de Soul e um vozeirão de arrepiar. Jovem, bonita, loira e de aparência angelical, Joss parecia ser o tipo perfeito de garota procurada para integrar o Clube do Mickey (se é que você me entende). Porém, desde muito cedo, a menina mostrou ter um gosto peculiar por antigos clássicos da Soul Music interpretados principalmente por Aretha Franklin (considerada o expoente máximo deste estilo). Graças às interpretações de Stone para antigos clássicos, a proposta inicial, que era a de produzir um disco de inéditas, acabou sendo transformada em uma “Sessão de Soul”, ou The Soul Sessions, que é o que vamos discutir hoje.

The Soul Sessions

Como você pode notar, a capa do álbum não revela o seu rosto e esta foi uma atitude inteligente e louvável. Compreenda, quando Joss surgiu, a Soul Music vivia um momento de carência de novos ídolos, então não seria uma tarefa simples convencer as pessoas de que uma garota loira poderia cantar Soul. Logo, ao comprar o disco, as pessoas eram atraídas pelo conteúdo e não pela capa. E aí está a magia da coisa: de dentro do disco surge um repertório de peso e um vozeirão incrível.

O The Soul Sessions em momento algum se mostra um álbum pretensioso, eu o considero até bastante simples. Trata-se de covers de Soul dos anos 60 e 70 muito bem selecionados e uma única faixa mais recente, como verão adiante. A canção que abre o disco, "The Chokin' Kind", foi gravada originalmente por Waylon Jennings, em 1967. Aí você já pode notar toda a qualidade da garota, que possui uma voz que não precisa de firulas para se destacar. A voz doce e ao mesmo tempo poderosa fala por si e confunde quem apenas escuta sem saber quem canta. Ou vai me dizer que você não imaginaria uma cantora bem mais velha? Pois é. Isso é magia.

Na sequência temos um de seus maiores hits: "Super Duper Love (Are You Diggin' On Me) Pt. 1". Joss Stone se apropriou de tal maneira dessa música, que você, provavelmente, pode até pensar que pertence a ela. Mas sinto ter que desapontá-lo, essa canção foi gravada pelo Sugar Billy, em 1974. Essa foi a faixa mais executada nas rádios mundo afora. Aqui no Brasil, inclusive, ela fez parte da trilha sonora da novela global Da Cor Do Pecado. É interessante observar que essa música cresceu junto com a Joss. Hoje, em seus shows, é um acontecimento a parte. Vale o clique (AQUI) para conferir esse que eu considero como um dos momentos mais incríveis de sua carreira (e é aqui, em terras Brazucas!).

A faixa 3 traz o primeiro single do The Soul Sessions e a regravação de data mais recente. “Fell in Love With a Boy” é uma versão mais retrô para um rock dos White Stripes chamado Fell in Love With a Girl, de 2001. É o tipo de Soul/Funk que te faz bater o pé e balançar a cabeça no ritmo. Em seguida, na faixa 4, temos o retorno ao Soul dos anos 60/70 com "Victim of a Foolish Heart", originalmente gravada por Bettye Swann, em 1972. Essa é uma das minhas faixas favoritas do The Soul Sessions graças à interpretação simples, porém emotiva que a jovem Soul Singer ofereceu a canção.

A próxima faixa é de 1967 e foi gravada por Laura Lee: “Dirty Man”, que em bom português quer dizer Homem Sujo. A versão da Joss Stone traz apenas o acompanhamento de um violão e uma guitarra melódicos, além de muito feeling por parte da garota. Simples (como, aliás, é todo o CD), porém arrebatadora. “Some Kind of Wonderful” é simplesmente maravilhosa. A gravação original data de 1967 e foi realizada pelo Soul Brothers Six. Preste atenção, mais uma vez, na interpretação da menina que, apesar da pouca idade, consegue soar como uma cantora experiente e segura de si.

Seguindo a lista, temos uma música gravada pela Carla Thomas em 1968. Refiro-me a “I’ve Fallen in Love with You”. Essa faixa já não é tão simples como as demais, tem um arranjo mais desenvolvido e eu realmente prefiro a versão dada pela Joss que a original. A seguir, “I Had a Dream”, música de 1970 gravada por um cara chamado John Sebastian. O foco mais uma vez está na voz e interpretação de Stone: simples, tocante e de bom gosto.

A penúltima canção é a que considero de maior risco do álbum, pois quem originalmente a interpreta é ninguém menos que Aretha Franklin, aquela que no começo deste texto eu falei que é o expoente máximo deste estilo e ídolo maior de Joss Stone. É simplesmente considerada a maior cantora de todos os tempos e, quando o assunto é demonstrar sentimentos através da música, ninguém a alcança. Vale ressaltar que nunca foi pretensão dela regravar Aretha. Ela diz que algumas canções ela não queria gravar, mas a fizeram. “Não quero fazer cover da Aretha. Ela é a rainha, por que faria isso? Quando eu era menina, pedia: ‘não me façam cantar essa canção’”, declarou. E sobre a música, “sei que muitos podem gostar, eu não. Eu fico envergonhada”. “All the King’s Horses” foi a prova de fogo do The Soul Sessions. Ela poderia ter escorregado, mas não escorregou; pelo contrário, fez uma performance brilhante.

Fechando o disco, “For the Love of You Pts. 1 & 2”, originalmente gravada pelos integrantes dos Isley Brothers. Essa é a faixa de destaque para mim, embora não seja a faixa de destaque do álbum. É a que mais me marcou pelo seguinte motivo: por trás da voz, apenas um teclado suave, quase ausente, o que faz com que essa música seja praticamente um acapella. Com isso, você consegue perceber toda a suavidade do trabalho vocal dela e finalmente descobrir porque a menina do interior da Inglaterra chamou tanto a atenção.

Vale ressaltar que sim, é possível notar certo exagero, em algumas faixas, na interpretação da Joss. Porém, é como se ela dissesse: ‘ei, eu sou apenas uma adolescente!’ Uma adolescente que soube não soar como uma estreante e esse foi o seu maior êxito.

Um álbum simples, porém genial, assim eu definiria o The Soul Sessions. Tudo foi feito na medida certa, apenas o suficiente para escancarar o talento da jovem Soul Singer. Nada de arranjos sofisticados. Tudo muito simples, apenas para evidenciar a voz da garota. Claro, com exceção das faixas Super Duper Love e Fell in Love with a Boy que são mais populares e claramente incluídas para fazer com que a Joss chegasse até as rádios e se tornasse popular. Então, não tinha como dar errado, não é mesmo? A partir daí, graças ao talento e carisma, Joss começou a colecionar prêmios e fãs ao redor do mundo.

Uma coisa que quero que saibam é que, assim como a própria Joss, eu não gosto da voz dela nesse período inicial de sua carreira. Comparado ao que posso ouvir hoje, ela me soa estranha e o disco um pouco maçante. Mas entenda, é como se houvesse uma voz muito poderosa esperando o momento de desabrochar, afinal, ela ainda estava engatinhando e aprendendo. Hoje, a história é bem diferente...

“Senhoras e senhores, quero apresentá-los Joss Stone! Ela é da Inglaterra e tem 16 anos de idade...”


Faixas:
The Soul Sessions
Versões originais
Sugar Billy (1974)
Bettye Swann (1972)
Laura Lee (1967)
Carla Thomas (1968)

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Para ouvir as músicas, basta clicar no título da faixa ou no nome do intérprete original.
Se você gosta de documentário, CLIQUE AQUI e assista ao mini documentário The Soul Sessions, com pouco mais de cinco minutos. 
E desculpem o tamanho do texto. Esse é um dos motivos pelo qual as críticas a álbuns demoram a sair.

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