sábado, 10 de agosto de 2013

Identidade ou a falta dela

Já perceberam como vivemos competindo com os acertos dos outros, tentando superá-los? E com as falhas dos outros, tentando mostrar que não falhamos tanto? É sempre o outro o nosso aplauso ou o nosso desprezo, o nosso sucesso ou o nosso fracasso. É sempre o outro o prato principal. E eu, onde eu fico? Não se trata, leitor, de egocentrismo, mas de identidade. Perdemos tanto tempo apontando para a pecadora... Tanto tempo com as pedras na mão, talvez para que saiamos por aí dizendo: pronto, foi ela a pecadora que foi apedrejada, não eu. E depois, quando ficarmos a sós conosco mesmos, o que seremos capazes de dizer? Que deu certo o nosso disfarce? Que não perceberam as nossas culpas na nossa fragilidade? Vamos inventar outro idioma, como o javanês de Lima Barreto, para que todo mundo fique surpreso com o que parecemos saber? E quando olharmos para o lago imaginário, será que reconheceremos a nossa alma ou tentaremos enganar também? Ou fingiremos não ver o visível? É preciso retirar as máscaras, amigo, ninguém resiste ao disfarce por tanto tempo. É preciso mostrar a fragilidade e aceitar ajuda!


É pena que desde criança aprendamos o contrário. Os pais exigem que os filhos sejam campeões em tudo, projetam nos filhos o que não foram, mentem narrando episódios novelescos para aumentar a aura de perfeição e santidade... Cobram dos filhos os primeiros lugares, as melhores notas, os posicionamentos mais carismáticos... Enfeiam a vida infantil com exigências e cobranças toscas! Pobre infância sem infância! Eu não tenho nada contra o progresso, tenho contra a aparência hipócrita, isso porque, leitor, embora eu caia e chore muito, embora eu erre e me revolva em erupções cotidianas tentando acalmar as lavas que me incendeiam para que o outro não se assuste com o meu vulcão, eu tento compreender a minha essência.

Vocês sabem quanto às dúvidas ocupam meu tempo... Já fiz coisas que não quis por não saber dizer não, já fiz coisas que quis e das quais me arrependo, já deixei de fazer o que devia por ter medo de magoar e já fiz o que não devia apenas para agradar. O tempo nos empresta sabedoria, se assim o quisermos. E eu quero essa sabedoria, até porque nossas escolhas com sabedoria ganham outro patamar. Não que deixaremos de errar, mas o erro será bem vindo porque fará parte de uma compreensão maior. E isso é a essência! As aparências fragilizam-se com o tempo, a essência não.

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